A maioria dos conteúdos sobre poker que encontro são vídeos, livros e artigos com dicas amplas. Sinto que faltam textos mais técnicos analisando alguma situação específica e, como gosto de escrever sobre a parte técnica do jogo, vou fazer alguns comentários sobre uma mão jogada por um aluno no Big $11, com 60 jogadores restantes.
Segue a mão:
Vilão (HJ): estava bem ativo no pré flop, vamos considerar o range dele em 25% das mãos:
Contra um vilão ativo, o aluno pagaria com:
O FLOP:
Boards com cartas altas conectam mais com as cartas que o HJ paga pré flop. Apesar do MP1 ter AA, JJ e TT em uma frequência maior que o HJ, o HJ possui muitas combinações de dois pares, par mais draw e, o mais importante, não possui tantas combinações que erram completamente esse board – o que acontece muito com o MP1.
No flop, temos duas opções: call ou raise. Se considerarmos que o vilão aposta com FlushDraws, AK, AQ, AJ, JT, Q9s e vai pro chão, o raise vai ser um pouco mais lucrativo que o call. Se acharmos que o vilão não dá bet flop com AQ e AK na maioria das vezes, ou que, se apostasse, faria uma aposta menor, o call é uma boa opção. Ambas as jogadas são corretas. A vantagem do raise é maximizar valor contra um range de cbet errado. A maior vantagem do call, por sua vez, é estar em posição e ver como a equidade da sua mão continua no turn.
O TURN:
Não há muito mérito em dar call. O range que o vilão representa é bem forte, não deve mais ter a mesma quantidade de AK, AQ ou bluffs aleatórios que havia no flop. Nossa equidade contra trincas e a sequência é bem ruim, além de não haver tantos combos de flushdraw para justificar. Apesar do raise se lucrativo, o call é a melhor opção.
O RIVER:
Aqui está a decisão mais difícil da mão, o pré flop e flop são próximos e turn, um call claro. Conforme as streets vão passando é mais improvável que o vilão tenha mãos que sejam mais fracas do que nossos dois pares. Ele precisaria ser um jogador muito ruim para ir all in por valor com AQ e AK, por exemplo. Os únicos dois pares que o vilão joga sempre assim é JT. Agora por valor ele pode jogar vários combos: AA (1), JJ (3), TT (1), KQ(16) e AJ(6); totalizando 27 combos. Podemos considerar outros dois pares que vencemos como A6s e A4s. Porém, além de serem só dois combos, não é garantido que ele jogue da forma que jogou sempre. Os combos de flush draw são 20, mas metade deles possui Ás, o que deixa mais improvável ele blefar.
Portanto, são 10 combos de bluffs claros que o vilão pode ter e 27 combos de valores bem prováveis. Isso resulta em 27% de bluff. Nossa stack no river é 272k e pot final ficaria em 870k, calculando a pot odds, precisamos de 31.25% de sucesso para poder dar o call. Na nossa análise, só temos 27%.
Para dar o call devemos considerar que o vilão vai ter mais mãos que vencemos além do FD, pode ser par com draw de sequência, Ad6d, Ad4d, AK, AQ ou algum bluff aleatório.
Minha decisão, portanto, é foldar o river, considerando todos os fatores otimistas (range pré-flop amplo, bet flop com AK, AQ, bluff com FD todas streets, etc) e call seria levemente lucrativo ou bem negativo. Assim fico com o fold. Para o call termos KQ, AJ, TT e eventuais AA e JJ.
Linhas alternativas:
E vocês?
Como jogariam essa mão? Concordam? Discordam?
Comentem!
Abraços,
Henrique Yamagutt
Membro da equipe FLOW