Ser poker player já é desafiador, mas as profissionais têm um desafio a mais: ser mulher em um esporte majoritariamente masculino e, infelizmente, ainda considerado por muitos uma atividade “de homens”.
Por isso, acordamos o ~espírito de entrevista~ novamente para ouvir a única mulher entre os 42 jogadores do PRO TEAM. Marcella “MenininhaMah” Camargo, em 9 meses no FLOW, acumula mais de 17 mil dólares de lucro, conquistou um ROI de 34.5%, já fez FT de torneios como Hot $16.50, Hot $22, cravou o Bounty Builder $22 e está construindo um gráfico lindo de se ver, praticamente uma escada para cima.
Com vocês, “MenininhaMah”:
FLOW: Quais desafios você enfrenta por ser mulher em uma profissão ainda tão majoritariamente ocupada por homens?
Marcella: Sinto que as barreiras são as mesmas que qualquer mulher enfrentaria em outras profissões, como jogadora de poker não é muito diferente. Já li muito desaforo nas mesas, cantadas imbecis e expressões pejorativas a meu respeito, pelo simples fato de ser mulher e estar jogando. Minha resposta a esse tipo de coisa é bloquear o chat da mesa e ignorar. Até hoje, encontrei essa represália somente nas mesas online.
F: Como foi sua trajetória entre conhecer o poker e começar a jogar profissionalmente?
M: Conheci o poker na faculdade, quando estourou a febre do poker. Desde que aprendi, me apaixonei e nunca mais parei. Quando comecei a jogar online, meu pai ainda restringia o uso da internet, mandava desligar o computador à meia-noite, independente do que eu estivesse fazendo. Muitas vezes acabei tendo que abandonar torneios pela metade. Até que, uma tarde, cheguei do estágio, abri uma tela e consegui meu primeiro resultado significativo. Gastei $2,20 num torneio $1,10 +R, com field de quase 15 mil pessoas e levei 10 mil dólares pela 2° colocação. Meu pai não acreditou até ver uma parte do dinheiro na minha mão, que pude usar para ajudá-lo na época.
Percebi, naquele momento, que uma das coisas que me dava mais prazer também poderia pagar minhas contas. Mas estava em um estágio, cursava faculdade e não conseguia me dedicar ao poker como queria. Depois de formada ainda tinha o sonho de ser jogadora de poker, mas não imaginava como poderia falar para a minha família que o tão sonhado concurso que eles esperavam, seguido de estabilidade financeira, não era o que eu queria.
Consegui um emprego, mas não estava nada satisfeita. Passei por algumas outras crises, problemas gástricos e, depois de passar por 3 médicos com a mesma opinião, admiti que eu estava em depressão. Foram alguns meses dormindo de 15 a 18 horas por dia, chorando as outras e tomando remédios que me deixavam praticamente lesada. Os médicos recomendaram que eu deveria fazer o que me dava prazer para sair dessa. Resolvi, então, voltar a jogar e comecei a olhar inscrições para, quem sabe, entrar em um time e me tornar uma profissional.
Desde que passei na seleção no FLOW, nunca mais vi um antidepressivo na minha frente.
F: Como você acha que o time contribuiu para sua evolução?
M: A estrutura e o material oferecidos são fantásticos. Reviews, hangouts e a proximidade com outros players, tudo isso é ótimo. Aprendi a focar e a me dedicar mais, praticar a paciência e evoluí muito tecnicamente. Além disso, namoro um jogador e instrutor que conheci no time, “VelascoNoBad”, e ele ajuda muito na minha evolução. A troca que temos é muito bacana, discutimos mãos, estudamos, grindamos juntos, tudo isso faz com que a gente aprenda e evolua muito um com o outro.
F: Como é sua preparação antes de começar uma sessão e sua rotina, em geral?
M: Acredito que cuidar do equilíbrio do corpo é muito importante para manter a cabeça funcionando no seu melhor, e vice-versa. Vou à academia pelo menos três vezes por semana, pela manhã, para me alongar e aliviar o estresse, esse treino me ajuda a ir para o grind mais focada. Além disso, mantenho um planejamento de estudos e tento folgar dois dias na semana pra me dedicar à família, amigos, lazer, casa, etc.
F: O que você considera mais importante para evoluir no poker?
M: Estudo, paciência, foco, dedicação e saber aprender errando. À medida que vem a evolução, a dificuldade e os desafios só aumentam. Essa transição é bem animadora e desafiante. Outro fator importante é não dar muita atenção ao que não podemos mudar no jogo, focando sempre em errar o mínimo possível.
F: O que você mais gosta em ser profissional de poker? E quais são as dificuldades que encontra?
M: O que eu gosto é o fato de poder fazer o que me agrada. Além disso, o poker é algo que me desafia a ser melhor todos os dias, permite grande flexibilidade porque dependo apenas de internet e um computador para trabalhar e posso escolher meu horário de trabalho e folgas.
As dificuldades são conseguir estar sempre focada, me policiar para não querer ganhar todas as mãos, não deixar que coisas externas ao poker influenciem na hora do grind e encarar o preconceito de muitos à minha volta, inclusive da família, que os impede de entender que esse é o meu trabalho, não estou brincando quando jogo. Muitos não compreendem que não vou “arrumar um trabalho”, pois já tenho um.
F: Qual recado você daria para as mulheres que querem jogar profissionalmente?
M: Preconceito existe em todo lugar e estamos aí para quebrá-los. Podemos, sim, fazer o que quisermos, e muito bem. Na minha opinião, tem que ter confiança, ir pro jogo e procurar usar o preconceito a seu favor, mostrar que a fragilidade feminina pode ser uma máscara na qual o oponente acredita e que, muitas vezes, vai colocá-lo em maus lençóis.
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