Clico no botão de time bank para ter alguns segundos a mais para pensar. Estou no river. Será mesmo que ele apostaria três streets com top pair nesse board? Devo pagar com meu terceiro par? Quantas e quantas vezes me encontrei nessa situação durante a carreira!
A leitura de mãos é essencial para jogar no nível dos melhores. Cada ação na mesa é um indício, uma pequena parte de uma história que pode ser curta, se a mão se definir no flop, ou mais longa e complexa, se a mão evoluir até o river.
Porém, antes de buscarmos ler os outros jogadores, é importante termos consciência do que nossas próprias ações revelam e compreender quais histórias criamos. Assim, podemos controlar o que contamos quando continuamos apostando no Flop num board Ad2d7s, após ter dado raise Pré-flop do UTG, e o que contamos quando fazemos o mesmo em um board 7c6c4d.
Na primeira situação, temos normalmente cartas altas e fortes, e nosso range se encaixa com o board, já que “A” é a carta mais alta e compõe boa parte das combinações de mãos do nosso range de raise do UTG. Já o segundo board não encaixa tão bem com nosso range. Se nosso adversário tiver algum par ou mão especulativa, teremos dificuldades em fazê-lo acreditar no nosso enredo, que nesse caso é o de que temos um overpair ou mãos fortes. É muito mais fácil fazer o oponente foldar essas mãos no primeiro board, já que geralmente teremos muitos “A’s” no range.
Ser um bom contador de histórias é parte essencial de ser um jogador profissional de pôquer. E, para uma boa narrativa, cada detalhe importa. É necessário usar todos os indícios a seu favor, pensar e repensar enquanto analisa a mão. E quando temos controle e consciência do que estamos representando, torna-se muito mais simples enxergar com clareza as histórias que os adversários estão procurando contar.
Converse com outros profissionais e tente analisar suas histórias para saber se elas fazem sentido e produzem as reações desejadas. Afinal, para atingirmos nossos objetivos, precisamos ser plausíveis do começo ao fim, sem demonstrar furos ou sobressaltos que denunciem incoerências no roteiro. E são essas possíveis falhas que precisamos procurar ao nos depararmos com as mais diversas criações dos outros jogadores.
Por Fellipe Nunes – membro da equipe FLOW